sexta-feira, 23 de abril de 2010

A mídia não comenta, mas Cuba realiza eleições neste domingo

Eleições em Cuba

Para algumas pessoas no mundo deve ter soado um pouco estranho o anúncio do Conselho de Estado da República de Cuba de que no domingo 25 de Abril se efetuarão as eleições para delegados às 169 Assembleias Municipais do Poder Popular.

Por Juan Marrero, em Cuba Debate
Isso é perfeitamente compreensível, pois um dos componentes principais da guerra mediática contra a revolução cubana tem sido negar, escamotear ou silenciar a realização de eleições democráticas: as parciais, a cada dois anos e meio, para eleger delegados do conselho, e as gerais, a cada cinco, para eleger os deputados nacionais e integrantes das assembleias provinciais.

Cuba entra no seu décimo terceiro processo eleitoral desde 1976 com a participação entusiasta e responsável de todos os cidadãos com mais de 16 anos de idade. Nesta ocasião, são eleições parciais.

Com a tergiversação, a desinformação e a exclusão das eleições em Cuba da agenda informativa de cada um, os donos dos grandes meios de comunicação tentaram afiançar a sua sinistra mensagem de que os dirigentes em Cuba, a diferentes níveis, não são eleitos pelo povo.

Isso apesar de, felizmente, nos últimos anos, sobretudo depois da irrupção da internet, os controles midiáticos terem começado a se quebrar aceleradamente, e a verdade sobre a realidade de Cuba, nas eleições e noutros acontecimentos e temas, ter vindo à tona.

Não dar informação sobre as eleições em Cuba, nem da sua obra na saúde, educação, segurança social e outros temas, decorre de que os poderosos do mundo do capital temem a propagação do seu exemplo, à medida que vai ficando completamente clara a ficção de democracia e liberdade que durante séculos se vendeu ao mundo.

Apreciamos, no entanto, que o implacável passar do tempo é adverso aos que tecem muros de silêncio. Mesmo que ainda andem por aí alguns comentadores tarefeiros ou políticos defensores de interesses alheios ou adversos aos povos e que continuam a afirmar que “sob a ditadura dos Castro em Cuba não há democracia, nem liberdade, nem eleições”. Trata-se de uma ideia repetida frequentemente para honrar aquele pensamento de um ideólogo do nazismo, segundo o qual uma mentira repetida mil vezes poderia converter-se numa verdade.

À luz das eleições convocadas para o próximo dia 25 de Abril, quero apenas dizer-vos neste artigo, dentro da maior brevidade possível, quatro marcas do processo eleitoral em Cuba, ainda suscetíveis de aperfeiçoamento, que marcam substanciais diferenças com os mecanismos existentes para a celebração de eleições nas chamadas “democracias representativas”. Esses aspectos são: 1) Registo Eleitoral; 2) Assembleias de Nomeação de Candidatos a Delegados; 3) Propaganda Eleitoral; e 4) A votação e o escrutínio.

O Registro Eleitoral é automático, universal, gratuito e público. Ao nascer um cubano, ele não só tem direito a receber educação e saúde gratuitamente, como também, quando chega aos 16 anos de idade, automaticamente é inscrito no Registro Eleitoral.

Por razões de sexo, religião, raça ou filosofia política, ninguém é excluído. Nem se pertencer aos corpos de defesa e segurança do país. A ninguém é cobrado um centavo por aparecer inscrito, e muito menos é submetido a asfixiantes trâmites burocráticos como a exigência de fotografias, selos ou carimbos, ou a tomada de impressões digitais. O Registro é público, é exposto em lugares de massiva afluência do povo em cada circunscrição.

Todo esse mecanismo público possibilita, desde o início do processo eleitoral, que cada cidadão com capacidade legal possa exercer o seu direito de eleger ou de ser eleito. E impede a possibilidade de fraude, o que é muito comum em países que se chamam democráticos. Em todo o lado a base para a fraude está, em primeiro lugar, naquela imensa maioria dos eleitores que não sabe quem tem direito a votar.

Isso só é conhecido por umas poucas maquinarias políticas. E, por isso, há mortos que votam várias vezes, ou, como acontece nos Estados Unidos, numerosos cidadãos não são incluídos nos registos porque alguma vez foram condenados pelos tribunais, apesar de terem cumprido as suas penas.

O que mais distingue e diferencia as eleições em Cuba de outras são as assembleias de nomeação de candidatos. Noutros países, a essência do sistema democrático é que os candidatos surjam dos partidos, da competição entre vários partidos e candidatos.

Isso não é assim em Cuba. Os candidatos não saem de nenhuma maquinaria política. O Partido Comunista de Cuba, força dirigente da sociedade e do Estado, não é uma organização com propósitos eleitorais. Nem apresenta, nem elege, nem revoga nenhum dos milhares de homens e mulheres que ocupam os cargos representativos do Estado cubano. Entre os seus fins nunca esteve nem estará ganhar lugares na Assembleia Nacional ou nas Assembleias Provinciais ou Municipais do Poder Popular.

Em cada um dos processos celebrados até à data foram propostos e eleitos numerosos militantes do Partido, porque os seus concidadãos os consideraram pessoas com méritos e aptidões, mas não devido à sua militância.

Os cubanos e as cubanas têm o privilégio de apresentar os seus candidatos com base nos seus méritos e capacidades, em assembleias de residentes em bairros, demarcações ou áreas nas cidades ou no campo. De braço no ar é feita a votação nessas assembleias, de onde resulta eleito aquele proposto que obtenha maior número de votos. Em cada circunscrição eleitoral há varias áreas de nomeação, e a Lei Eleitoral garante que pelo menos 2 candidatos, e até 8, possam ser os que aparecem nos boletins para a eleição de delegados do próximo dia 25 de Abril.

Outra marca do processo eleitoral em Cuba é a ausência de propaganda custosa e ruidosa, a mercantilização que está presente noutros países, onde há uma corrida para a obtenção de fundos ou para privilegiar uma ou outra empresa de relações públicas.

Nenhum dos candidatos apresentados em Cuba pode fazer propaganda a seu favor e, obviamente, nenhum necessita de ser rico ou de dispor de fundos ou ajuda financeira para se dar a conhecer. Nas praças e nas ruas não há ações a favor de nenhum candidato, nem manifestações, nem carros com alto-falantes, nem cartazes com as suas fotografias, nem promessas eleitorais; na rádio e na televisão também não; nem na imprensa escrita.

A única propaganda é executada pelas autoridades eleitorais e consiste na exposição em lugares públicos na área de residência dos eleitores da biografia e fotografia de cada um dos candidatos. Nenhum candidato é privilegiado sobre outro. Nas biografias são expostos méritos alcançados na vida social, a fim de que os eleitores possam ter elementos sobre condições pessoais, prestígio e capacidade para servir o povo de cada um dos candidatos e emitir livremente o seu voto pelo que considere o melhor.

A marca final que queremos comentar é a votação e o escrutínio público. Em Cuba não é obrigatório o voto. Como estabelece o Artigo 3 da Lei Eleitoral, é livre, igual e secreto, e cada eleitor tem direito a um só voto. Ninguém tem, pois, nada que temer se não for ao seu colégio eleitoral no dia das eleições ou se decidir entregar o seu boletim em branco ou anulá-lo... Não acontece como em muitos países onde o voto é obrigatório e as pessoas são compelidas a votarem para não serem multadas, ou serem levadas a tribunal ou até para não perderem o emprego.

Enquanto noutros países, incluindo os Estados Unidos, a essência radica em que a maioria não vote, em Cuba garante-se que quem o deseje possa fazê-lo. Nas eleições efetuadas em Cuba desde 1976 até à data de hoje, em média, 97% dos eleitores foram votar. Nas últimas três, votaram mais de 8 milhões de eleitores.

A contagem dos votos nas eleições cubanas é pública, e pode ser presenciada em cada colégio por todos os cidadãos que o desejem fazer, inclusive a imprensa nacional ou estrangeira. E, para além disso, os eleitos só o são se alcançam mais de 50% dos votos válidos emitidos, e eles prestam contas aos seus eleitores e podem ser revogados a qualquer momento do seu mandato.

Aspiro simplesmente a que, com estas marcas agora enunciadas, um leitor sem informação sobre a realidade cubana responda a algumas elementares perguntas, como as seguintes: onde há maior transparência eleitoral e maior liberdade e democracia? Onde se obtiveram melhores resultados eleitorais: em países com muitos partidos políticos, muitos candidatos, muita propaganda, ou na Cuba silenciada ou manipulada pelos grandes meios, monopolizados por um punhado de empresas e magnatas cada vez mais reduzido?

E aspiro, para além disso, a que pelo menos algum dia, cesse na grande imprensa o muro de silêncio que se levantou sobre as eleições em Cuba, tal como em outros temas como a obra na saúde pública e na educação, e isso possa ser fonte de conhecimento para outros povos que merecem um maior respeito e um futuro de mais liberdades e democracia.

Fonte: Cuba Debate

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Orlando Zapata Tamayo, Cuba e os Meios

*por Moacir Pereira da Silva

Se você é dos medianamente inteligentes e informados, já deve haver percebido que, quando se trata de Cuba, é quase impossível, em qualquer parte do mundo, aceder a notícias verazes e não manipuladas, e que tudo o que aparece nos grandes meios de comunicação responde a uma linha editorial precisa, ideologicamente orientada a favor dos interesses de classe dos acionistas das corporações que atualmente controlam as principais agências informativas do mundo. Hoje o cidadão está obrigado – se não quer ser enganado e estar desinformado – a investigar por conta própria a autenticidade das informações que circulam, suas orientações político-ideológicas, e buscar alternativas informativas alheias aos meios tradicionais que nos possibilitem ao menos confrontar versões distintas e tirar nossas próprias conclusões.

O tema que nos ocupa é o caso do prisioneiro cubano falecido recentemente produto de uma greve de fome, que tem saído diariamente em quase todos os grandes meios de comunicação ocidentais como mais um prisioneiro político vítima do regime. Uma enorme campanha mediática foi ativada contra Cuba – nada novo! –, enquanto os problemas que afetam os interesses dessa classe dominante e do imperialismo são maliciosamente silenciados: falo das guerras no Iraque, Afeganistão, Paquistão; da crise do sistema capitalista global (alimentícia, energética, climática, social, econômica); do fracasso da Cúpula de Copenhague sobre a Mudança Climática e o incremento do nível de violência, pobreza e desemprego no mundo, para apenas citar alguns. Para os medianamente informados, só o fato de que um tema específico ganhe espaço dentro do complexo processo editorial desses grandes meios, cujos donos são as mesmas ricas e influentes famílias “tradicionais”, seria suficiente para intuir que lhes são favoráveis, ou passam por um processo de reciclagem e são acomodados a seus interesses quando não o são.

Mas se você é ainda dos que acreditam nos grandes meios, na sua imparcialidade e profissionalismo, e continua vendo Cuba como o país-violador-dos-direitos-humanos por excelência, vejamos os fatos.

O nome do cubano recentemente falecido (assassinado pelo governo dos Estados Unidos, como ficará demonstrado com os argumentos adiante) era Orlando Zapata Tamayo. Tratava-se de um indivíduo preso por crimes comuns que dentro da cadeia começou a relacionar-se com elementos contra-revolucionários (mercenários que recebem dinheiro de uma potência estrangeira para subverter a ordem interna do país) e foi convencido por eles a iniciar uma greve de fome exigindo televisão e telefone em sua cela, qual fosse um verdadeiro prisioneiro político. Permaneceu mais de 80 dias sem ingerir alimento voluntariamente – desde dezembro de 2009 –, apesar das insistências de familiares, médicos e psicólogos que o visitavam frequentemente, e encontrou a morte em fevereiro do presente ano, depois de passar pelas Unidades de Cuidados Intensivos dos melhores hospitais da Ilha.

As principais manchetes afirmavam: “Morre mais um prisioneiro político em Cuba”; “Cismaram com ele porque era negro”; “Preso político morre sem receber cuidados médicos”. Uma gigantesca campanha desatou-se e o assunto ganhou capa nos “mais importantes” meios de comunicação do ocidente. Por quê? Por que a morte de um preso em Cuba invade os canais de televisão, revistas e jornais do mundo? Por que é tão importante falar diariamente sobre Cuba – se existem tantos outros problemas de vital urgência para a humanidade – e reiterar as impressões negativas sobre essa “odiosa ilha caribenha”, que insiste em ser diferente?

Desde os Pais Fundadores, já falava-se de uma anexação natural de Cuba ao território das Treze Colônias. O mesmo Thomas Jefferson, em escritos pouco conhecidos, pelo ano 1805, defendia o justo e divino direito dessa nação de possuir essa cobiçada ilha, tão importante para a consolidação desse grandioso país como potência mundial. E assim foi. Empurrados pelo Destino Manifesto e a Doutrina Monroe, o pujante império nascente inaugurou-se com a intervenção na guerra hispano-cubana em 1898, e por meio da força conseguiu convertê-la em colônia com a imposição da Emenda Platt à sua novel constituição, que lhe concedia o privilégio legal de intervir militarmente sempre que achasse necessário, montar bases militares, etc. Até que em 1959 os Rebeldes da Serra Maestra liderados por Fidel Castro venceram a guerra contra a ditadura bastiniana sustentada pelos yankees, e culminou o processo de independência iniciado em 1868 com o Grito de Yara, dando fim a um período de mais de 60 anos como possessão colonial do Estados Unidos, que jamais aceitaram que seu pátio traseiro por excelência – ilha de diversão onde vinham a esbanjar em cassinos e praias em companhia de formosas prostituas crioulas – se convertesse numa nação independente e soberana.

Por isso, no dia 17 de março de 1960 – 13 meses antes da declaração do caráter socialista da Revolução de 59, que só aconteceu em abril de 1961 quando a invasão mercenária de Girón –, há exatamente 50 anos, o presidente Dwigth Eisenhower assinou uma Ordem Executiva conhecida como “Programa de Ação Encoberta contra o Regime de Castro”, que, entre outras muitas coisas, ordenava a criação de uma organização integrada pelos remanescentes da ditadura bastiniana exilados no Estados Unidos para dar cobertura às atividades da CIA contra a recém triunfante Revolução, que tanto afetava os interesses econômicos e estratégicos dessa nação; paralelamente colocava à disposição desses planos todo o aparelho militar e de espionagem norte-americano com o fim imediato de organizar uma força para-militar que chegasse clandestinamente à Cuba, com o propósito de treinar e dirigir grupos terroristas. Documentos desclassificados pelo Arquivo de Segurança Nacional do Estados Unidos revelam que tal ordem incluía iniciar uma ofensiva propagandística internacional e criar no interior da Ilha grupos clandestinos que lhes subministrasse informação de inteligência. Era uma verdadeira declaração unilateral de guerra, como posteriormente reconheceu em suas memórias o general Eisenhower: “No dia 17 de março de 1960 ordenei à Agência Central de Inteligência que começasse a organizar o treinamento dos exilados cubanos, principalmente na Guatemala (...) Outra idéia foi que começássemos a construir uma força anti-castrista em Cuba. Alguns pensaram em colocar a Ilha em quarentena (ou seja, bloqueio) argumentando que se a economia decaía, os mesmos cubanos derrotariam Castro”.

Meio século depois, apesar dos exorbitantes recursos e das variadas estratégias derivadas de dita Ordem, a ilha continua impacientemente resistindo soberana. Nem a invasão mercenária por Playa Girón, a Operação Mangosta, as guerras biológicas e a imposição unilateral de um Bloqueio Econômico, Comercial, Financeiro e Mediático contra a Ilha; nem a criação de uma Rádio na ilha Swan – ao sul de Cuba – nos anos 60 para transmitir propaganda subversiva dentro da Ilha e posteriormente o estabelecimento das mal chamadas Rádio e TV Martí – controladas pela máfia anti-cubana de Miami (da qual logo falaremos) –, com idêntico propósito; nem o estímulo ao surgimento de infinitos grupos terroristas nesse território (Fundação Cubano-americana, Alpha 66, Hermanos al Rescate...) e o financiamento direto a essas organizações e outras surgidas dentro de Cuba, como os famosos “dissidentes” – que atuam segundo as ordens recebidas diretamente da Oficina de Interesses do Estados Unidos em Havana –, foram suficientes para reconquistar Cuba, ainda que hajam acarretado milhares de mortes, incalculável sofrimento, severas limitações econômicas e a construção de uma Cuba no imaginário coletivo internacional que dista abismalmente da realidade.

Outros dois elementos fizeram com que a problemática cubana se tornasse ainda mais complexa com o passar do tempo: a Ilha converteu-se, não só em exemplo de independência e progresso humano num continente pobre que havia sido declarado “dos Americanos”, más também em exemplo de sociedade alternativa ao capitalismo, avançada e de solidariedade, que com soberbia havia se declarado Socialista sob os próprios narizes do império; e a comunidade cubana de exilados e os grupos terroristas criados para realizarem o trabalho sujo de suas agências de inteligência alcançaram um poder incontrolável.

Essa comunidade cubana exilada – principalmente em Miami – pela Revolução triunfante de 59 (entenda-se a burguesia recalcitrante da Ilha, gângsteres e máfias ligadas a cassinos, armas e drogas, e os que participavam diretamente dos diferentes aparelhos repressivos do regime bastiniano fundamentalmente) e os grupos terroristas surgidos nesse território foram acumulando cada vez mais poder dentro desse país, até converter-se em parte integrante do sistema político e militar do Estados Unidos e em reserva por antonomásia de mercenários para os serviços sujos e encobertos da CIA em todo o continente: Operação Condor, golpe de estado no Chile, Venezuela, intervenção militar na República Dominicana... Essa máfia anti-cubana, que atualmente conta com vários congressistas federais e um poderoso lobby político, também recebe milhões de dólares de financiamento direto do governo do Estados Unidos, para pagar-lhes os favores e estimular a implantação de uma “democracia pluralista” em Cuba. Dessa forma, a contra-revolução em Cuba se convertia num verdadeiro negócio. Só para o ano 2010, o Congresso do Estados Unidos aprovou a soma de 20 milhões de dólares para financiar a tão almejada transição de regime em Cuba através da USAID, sob protesto dessa máfia que exige pelo menos 40. Ninguém quer ficar de fora da festa patrocinada com o dinheiro do contribuinte estadunidense, nem mesmo os gusanos de dentro da ilha! São esses elementos mafiosos os que realmente determinam a política exterior dos Estados Unidos da América em relação à Ilha. Cada vez que os diferentes presidentes de turno na Casa Branca tentaram ensaiar uma aproximação a Cuba, aparece a poderosa máfia anti-cubana, monta um pretexto e começa uma grande campanha mediática internacional de descrédito para exercer pressão e justificar a permanência absurda dessa política genocida, que anualmente é condenada pela Assembléia Geral da ONU.

Tudo se mistura e faz crescer o bolo da complexidade para entender o que há de errado com Cuba e porque a oligarquia ocidental tanto a ataca: os donos de ontem, rancorosos pelo que perderam, ainda sonham com voltar à paradisíaca Ilha e ocupar suas antigas propriedades; nem a poderosa máfia anti-cubana, nem os mercenários de dentro da Ilha querem deixar de receber tal financiamento milionário por parte do governo imperial; cada candidato ao trono deve agradar essa máfia anti-cubana, mostrando ser linha dura frente ao tema Cuba, se deseja o voto transcendental da Flórida para ocupar a Casa Branca; e em definitiva, Cuba Socialista é o exemplo mais maligno para o sistema-mundo capitalista globalizado atual.

A recente campanha mediática acerca do preso falecido só faz parte de toda essa estratégia montada há 50 anos para estimular a contra-revolução, sobre dimensionar e distorcer os fatos e a realidade da Ilha, usando toda a maquinaria imperial para desacreditar, isolar e destruir o malévolo exemplo de Cuba, e assim reconquistá-la.

Quem não lembra o caso de Armando Valladares, um suposto prisioneiro de consciência da década de 80, que foi fabricado para o mundo como um “poeta paralítico” perseguido político pelo regime comunista da Ilha. Montaram um verdadeiro show em todos os grandes meios, houve protesto dos intelectuais e governos do mundo, etc, blá, blá; veio inclusive Regis Debray enviado pelo presidente francês Chirac para pedir sua liberação. Tudo serviu de pretexto para a condenação de Cuba como violadora dos Direitos Humanos. Depois o governo cubano divulgou os vídeos do mercenário (por isso havia sido preso) realizando exercícios físicos escondido em sua cela, subindo a cama, caminhando, e descobriram que o livro de sua alegada autoria (Desde mi silla de rueda) havia sido elaborado pela CIA. Logo esse lamentável personagem ocupou cargos na Comissão de Direitos Humanos de Genebra em nome do Estados Unidos e recebeu vários prêmios de diferentes organizações.

Agora o que está de moda são as Madres de Blanco, organização formada por algumas poucas mulheres – supostas mães e esposas de supostos prisioneiros políticos em Cuba –, que vira e mexe fazem pequenas marchas vestidas de branco pelas ruas de Havana (acompanhadas sempre por uma multidão de defensores do processo revolucionário, que não suportam calados vê-las passar, pois sabem que embolsam boa soma de dólares “doados” pelo governo que há mais de 100 anos tenta dominar seu país) e recebem uma ampla repercussão em todos os meios de comunicação do ocidente. “Coincidentemente” incrementaram suas marchas logo da morte de Orlando Tamayo, apesar de que já esteja demonstrado, através de vídeos, documentos e conversas telefônicas, seus vínculos com a Oficina de Interesses dos Estados Unidos em Havana e a máfia anti-cubana de Miami; a quantidade de dinheiro que recebem mensalmente e de quem o recebem: nada mais e nada menos que do conhecido terrorista cubano-americano Santiago Alvarez Fernandez Madriñá . Quem fala disso? Essa é a verdadeira essência da “oposição” em Cuba: mercenários organizados, financiados e guiados pelo governo do Estados Unidos e pela máfia apátrida de Miami.

Orlando Tamayo foi mais outro cubano utilizado para os fins políticos e estratégicos imperiais e da máfia, que não hesitaram em deixá-lo se consumir. Todas as notícias suscitadas por tal episódio são caluniosas e falsas, como ficou comprovado com a recente divulgação dos vídeos das reuniões entre sua mãe e os médicos e especialistas cubanos que tentavam salvar sua vida.

Cuba não necessita corroborar com palavras seu compromisso com a vida e com a verdade. A história real e suas ações são mais que suficientes para ratificar sua postura ética consequente e sua lealdada para com a vida. Em Cuba revolucionária nunca houve uma morte extrajudicial e nunca se torturou um prisioneiro, nem mesmo durante a guerra. Todos os prisioneiros, desde a Serra Maestra, receberam trato digno e inclusive atenção por parte dos médicos guerrilheiros. Os prisioneiros da brigada 2506, formada por mercenários treinados pelo Estados Unidos para a fracassada invasão por Bahia dos Porcos em 61, foram liberados pelo governo cubano a troco de medicamentos. São sólidas e variadas as missões médicas cubanas que chegam a diferentes partes do mundo para curar e salvar vidas. Que provem com elementos concretos a falsidade desses argumentos!

O foco da campanha atual contra Cuba é curiosamente a Espanha (comandada pelo jornal El País – que pertence ao grupo empresarial Prisa) e Miami (pelo Novo Herald), ambos matrizes de informação para quase todos os grandes meios latinoamericanos. O país ibérico ocupa a presidência temporal da União Européia e seu presidente, Zapatero, era contrário à política de Posição Comum adotada por essa organização desde 1996 (mesmo ano da aprovação da Lei Helms-Burton pelo congresso norte-americano), que a condena por violar Direitos Humanos e se alinha à política exterior estadunidense para Cuba, qual piões imperiais. Não deu outra. Montaram o pretexto, veio a avalancha mediática e aprovou-se a prevalência da Posição Comum européia e também uma declaração de condenação à Ilha. Meses atrás, o governo imperial havia colocado Cuba numa lista de países que estimulam o terrorismo.

Com que moral e crédito a União Européia e o Estados Unidos pensam condenar Cuba? Que nível de dissociação é essa? De quê Direitos Humanos se fala tanto?

O jornal El País, por exemplo, recebe 6 milhões de euros anuais só de anúncios relacionados à prostituição. Na União Européia atualmente 17 milhões de crianças vivem na indigência, 23 milhões de seres humanos sobram desempregados e 80 milhões estão na linha da pobreza. Em pelo menos 20 dos países que a integram, grandes empresas continuam lucrando com a venda ilegal de instrumentos de tortura para os corpos policiais do mundo. No Estados Unidos, mais de 50 milhões de pessoas não têm acesso à saúde, 11 milhões são indocumentados, e é esse o país com a maior população penal do mundo. Abundam em ambos os grupos neofascistas e as manifestações de violência e xenofobia contra os imigrantes.

Mais de 2000 cubanos morreram e uma cifra superior a 3000 ficaram mutilados como consequência das ações terroristas desses grupos mafiosos de Miami e do governo imperial contra Cuba. Cinco cubanos estão presos no Estados Unidos desde 1998 pelo “crime” de haverem se infiltrado nessas organizações terroristas e tentado evitar atentados contra seu país financiados cinicamente pelo governo norte-americano. Por que o governo imperial os mantém presos depois de 11 anos, como verdadeiros prisioneiros políticos? Quê moral tem um país que ampara e financia a essas organizações terroristas e a conotados terroristas em seu território, como Orlando Boch e Posada Carriles, que passeiam livremente por Miami, apesar de haverem sido os autores intelectuais da explosão de um avião de Cubana de Aviação em pleno vôo em 1976, que matou a mais de 70 pessoas?

Mais de um milhão de iraquianos já morreram depois da invasão ilegítima das tropas da OTAN (Estados Unidos e Europa) em 2003 a esse país. Quem os vai condenar por isso, ou pelas torturas descobertas em Abu Ghraib e Guantánamo a pessoas inocentes? Quem condenou a Europa por haver cediço seu território para os vôos secretos da CIA com prisioneiros que mais tarde seriam torturados pelas forças imperiais?

Quem condenou o Estados Unidos por haver promovido os golpes militares em todos os países latinoamericanos, que tantas mortes, torturados e desaparecidos deixaram?

Quem condena o Estados Unidos e a Europa por sustentarem um sistema que mantém a mais de 1 200 000 000 de pessoas passando fome em diferentes partes do mundo e está provocando a destruição das condições naturais que permitem a vida de todos os seres humanos no planeta?

Não se deixem enganar nobres leitores. Há muitas coisas por detrás de uma manchete...